dezembro 04, 2018

III PROCESSO EM CENA - 2018 - PEC III

dezembro 04, 2018

30 horas de dramaturgia, 30 horas de trabalho de corpo, 40 horas de montagem. 

O Processo em Cena é um festival de cenas curtas dos alunos de teatro da turma adulta do Grupo Casa. Todas as turmas de teatro do Grupo Casa enfrentam um Festival de Cenas Curtas, e vivem experiências de cena logo no início do curso, pois não há tempo para perder: o mundo é relação. O festival acontece uma vez por ano e é aberto para os alunos criarem suas próprias cenas e se arriscarem no mundo teatral. 

Com o “Método de Enfrentamento”, ministrado por Ligia Prieto e Fernando Lopes Lima, os alunos enfrentam todo o caminho de produção de uma peça, desde a própria dramaturgia, passando por cenário, figurino, até chegar à atuação. Disciplina, criatividade, loucura e coragem são quesitos necessários para que o aluno embarque com tudo nesse mundo de autoconhecimento e domínio de si próprio que o teatro lhe apresenta. As aulas ministradas são: canto, voz, corpo, interpretação, dramaturgia, construção de história, contação de história, poesia, e outras. O teatro está inteiramente ligado ao desenvolvimento do sujeito, auxiliando em sua própria representação de si diante do mundo. O auto conhecimento, o conhecimento do outro, o conhecimento de seus limites e o tornar real sua própria imaginação levam à construção do ator consciente. A busca pelo ator consciente independe da sua idade.

A partir do desenvolvimento de textos dramatúrgicos e do aprofundamento nas etapas de construção de personagem, são organizadas apresentações de cenas curtas que, antes de tudo, revelam o trabalho do ator em constante pesquisa. Sobretudo, do ator criador. O ator que cria sua essência, sua cena.

Faz parte também do evento, a presença de profissionais das artes que, após a apresentação, expõem suas considerações e possíveis encaminhamentos a respeito de cada cena. O Festival Processos em Cena tem como principal objetivo apontar um caminho para a formação de um ator consciente e criador. Outros objetivos do processo são desvelar os caminhos de produção de um espetáculo e dar ao ator/artista a possibilidade de desenvolver-se através do constante diálogo com o público. 

Essa será a terceira edição do Processo em Cena. A edição acontece na próxima semana, conforme datas e horários:

Dias: de 12 a 14 de Dezembro de 2017.
Horários: As apresentações acontecem a partir das 20h, mas a partir das 19h a casa já estará aberta com feira de artesanato e banca de guloseimas e café.
Entrada: R$20 / R$10 - Antecipadamente todos pagam meia. Na hora vale a inteira (R$20) e a meia (R$10).
Local: Casa de Cultura Nildes Tristão Prieto - sede do Grupo Casa.

PROGRAMAÇÃO DAS CENAS EM BREVE

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"Entrar dentro em si e encontrar o mundo inteiro. A vida em um instante. Uma pesquisa individual, mas nunca sozinha. Nunca. A liberdade vem depois. Seria mais fácil se não fosse comigo. Enfrentar-se. Re-existir a partir de mim, do outro, da minha criação. O 3° Processo em Cena surge com a escolha do momento já, bom ou ruim, não importa. O foco é a existência, ou o que ainda nos resta dela. O que resta de nós. Enfrentar 18 dias com mais de 100 horas de trabalho coletivo, em sala de ensaio. Passar por mim e pelo outro. Ser atravessado. Primeiro enlouquecer, depois escrever e tornar a loucura palpável. Palpável. Talvez essa esteja sendo a maior busca desse processo. Depois de escrever no papel, escrever em mim, no meu corpo, a minha loucura, tornar palpável em mim, me tornar palpável. Choros, resistências, risadas, muitas risadas, dúvidas, medo, experimentar tudo e nunca qualquer coisa. Qualquer coisa não serve pra nada. É preciso passar por tudo que me atravessa para eu poder escolher, experimentar, escolher, afinar, assumir, deixar perfeito. Nunca vai estar, não sei nem porque eu insisto, rs. Palavras a partir de mim... Colocar palavras em mim. Existir com palavras, ou sem palavras. Ir além de mim. Todo processo é desafiador, é preciso ter coragem, é preciso ter fome. Em todos os instantes. Se jogar no abismo.", diretora do III PEC, Ligia Prieto.
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dezembro 03, 2018

Semana de Bordo :: 26/11 a 2/12/2018

dezembro 03, 2018

Oi! Adivinha quem está voltando mais uma vez? Sim, o Blog Grupo Casa! Tomara que não entre em stand-by novamente, não é? Coisa chata.

Bem, estamos voltando mais ou menos no formato que era, mas nem tanto. A Semana de Bordo volta todas as segundas-feiras e os Artigos Artísticos ainda estão sendo pensados. Antes, eram oito artigos publicados mensalmente. Dessa vezes, teremos menos artigos, mas que ainda não estão definidos. Mas logo eles chegam!

Vamos conhecer a última semana do Grupo Casa?!

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SEGUNDA-FEIRA - 26/11/2018

A semana começou assim: folga! Vamos repassando a semana para ficarmos por dentro do dia a dia do Grupo Casa.

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TERÇA-FEIRA - 27/11/2018


Na terça, nos encontramos para mais um dia de trabalho, mas havíamos marcado reunião de planejamento. Sentamos para a reunião às 15h. Às 17h começaria a aula das crianças, mas continuamos a conversa com a aula já acontecendo. Hoje a aula foi de artes visuais com Gabriel. As crianças criaram um painel para expor no dia do Sarau de Fim de Ano do Grupo Casa, que deverá acontecer dia 16 de Dezembro na nossa sede.

Ah. A entrada do sarau será gratuita, mas venham preparado$ para ajudar com nosso chapéu ou comprando coisas da nossa incrível feira de artesanato e guloseimas <3

A noite foi de Processo em Cena. Finalizada a aula das crianças, já estávamos todos em trabalho de criação. Trabalhamos em cima do texto de Eduarda Dutra, "Inventado de Verdade Verdadeira". Exercícios de leitura, música, escrita, criação de partituras. Nessa brincadeira, passamos a noite toda. Foi bom. Decidimos fazer o mesmo com os demais textos, mas nos outros dias.
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QUARTA-FEIRA - 28/11/2018



Na quarta, começamos os trabalhos de casa às 14h, com a organização do espaço. A partir das 15h, cada um partiu para seus afazeres individuais. Um pouco mais tarde, fomos até a Escola Soletrando para conhecermos as crianças de uma das turmas, estão em formatura e vamos participar da festa com a turma do Bagacinho. Crianças fofas! De lá, fomos para o Sebrae para conhecer o espaço (auditório) onde tudo acontecerá. Fomos atendidos pelo Roni, muito querido e prestativo. De lá, voltamos para o Casa, pois já chegariam alunos para os trabalhos da noite. Compramos chipa e suco de laranja para o lanche.

Às 18h, nos reunimos novamente no palco do nosso teatro de bolso para dar início a mais uma noite de trabalhos para o Processo em Cena. Repassamos o exercício da noite anterior com outros três textos, e foi o suficiente para vermos que não temos tempo. Passamos os textos de Bruno Samaniego, Thaisa Contar e Bruno Sarate. Mas como eu disse: falta pouco! Faltam apenas duas semanas para as apresentações! aaaaaa quase aí!

Programe-se! O PEC terá venda de ingressos e você pode adquirir através do site. Não escolha o dia, venha em todos :D

Mais informações no site:
https://www.teatrogrupocasa.com.br/processo-em-cena

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QUINTA-FEIRA - 29/11/2018


A quinta foi como a quarta. Tarde de trabalhos de grupo e de casa. Noite de processo em cena.

Durante a tarde passamos por trabalhos de: organização e biblioteca, números e finanças, fios e acessórios, jardim e cachorro.

Durante a noite, leitura e decoreba de textos, alongamento coletivo e jogo de relação foram alguns dos exercícios propostos por Ligia Prieto. Trabalhamos na maioria das cenas individuais e nas duas cenas coletivas (dupla e quinteto). Mais quatro horas de trabalho contadas para essa semana!

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SEXTA-FEIRA - 30/11/2018


A sexta-feira foi muito maluca. Nos reunimos às 14h para começarmos os trabalhos de grupo e de casa. Às 16h, fomos para o Sebrae arrumar nosso espaço. Não conseguimos. O pessoal da organização não estava lá, estávamos perdidos. Resolvemos voltar mais tarde. Enquanto isso, fomos à maternidade visitar Andreza Bartiê para conhecer seu baby que acabara de nascer. Tom, seu fofo, bem vindo ao mundo! Demos uma volta no quarteirão, tomamos uma água de côco no Belmar Fidalgo, comemos um cookie na MyCookies, tomamos um café na Bourbon Cafeteria e retornamos para o Sebrae. Sem sucesso na nossa montagem. A organização do palco estava confusa para nós. Deixamos o cenário do lado de fora, e decidimos que entraríamos com ele no cortejo. Voltamos para o Casa para pintarmos nossos narizes de vermelho e de novo voltamos para o local!

E enfim era nossa hora de entrar em cena com a Turma do Bagacinho! A noite de formatura foi tão longa que mudamos todos os planos e passamos de espetáculo para um lindo sarau especial para as crianças formandas da Escola Soletrando! Músicas e poesias para animar e fechar com "chave de palhaço" essa noite tão especial. O Grupo Casa deseja muita sabedoria para todas as crianças! Viva!!

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SÁBADO - 01/12/2018

Esse é o dia maluco da semana. 40 crianças passam pela nossa casa durante a tarde! Ficamos enlouquecidos de amor. Hoje as aulas foram de artes plásticas, com criação de um lindo boneco montado com jornal e fitas e algumas gravuras em papel. Assim como o quadro das crianças da turma de terça-feira, esses trabalhos também estarão expostos no osso Sarau de Fim de Ano no dia 16 de Dezembro!

Durante a tarde, se estendendo até a noite, tivemos trabalhos diversos com os alunos da turma adulta também. O III PEC (Processo em Cena) está chegando, e precisamos afinar a galera para as apresentações bombarem! Serão 20 cenas inéditas, com diversos temas e gêneros, para 3 noites de festival.

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DOMINGO - 02/12/2018


Dia de Shopping Bosque dos Ipês, dia de Bagacinho! Hoje a trupe entrou dificuldade pelos corredores do Arena Bosque. O cortejo foi muito animado, com muita criança cantando e dançando junto com os palhaços. A Casa já estava cheia desde o início. O Patinho Feio mostrou mais uma vez que a verdadeira beleza está no interior, depois de emocionar tantas crianças com suas aventuras não tão legais como as aventuras dos palhaços. Mas o patinho era tão, mas tão esquisito, que Bolonhesa e seus amigos decidiram batizá-lo de Bagacinho, pois quanto mais esquisito, melhor!

Ainda cantamos parabéns para Bibi, nossa palhaça Chocolate, que levou as amigas pra assistirem ao espetáculo e cantarem com os palhaços! Bibi, te amamoos! Vivaaa!


Depois de comemorar o Natal do Patinho Feio, a turma do Bagacinho foi comemorar o Aniversário do Patinho Feio! Mentira, foi o aniversário da pequena Melissa. A Mamãe Pata teve seus ovinhos chocados no mesmo dia do aniversário de Mel, que agora comemorará seus próximos anos no mesmo dia do Patinho 01, do Patinho 02 e do Patinho Feio, ops, Patinho 03. O Patinho ficou tão triste por sua rejeição que saiu pelo mundo afora, desbravando florestas, cheirando flores, conversando com gatos, até descobrir sua verdadeira identidade! Ele é um palhaço! O Palhaço Bagacinho! Viva!! E viva a Melissinha por mais um ano de vida! O Grupo Casa deseja mais um ano de amor e alegria para essa pequena flor de jasmim <3
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É isso, pessoal. Um beijo e até a semana que vem!


junho 25, 2018

A Vida é Sonho | Grupo Casa

junho 25, 2018

A Vida é Sonho, senhoras e senhores, de Pedro Calderon De La Barca



“O barroco expressa um homem dilemático, dilacerado entre a consciência de um mundo novo e as peias de uma estrutura anacrônica que o aliena das novas evidências da realidade, assim como o homem moderno”
(Afonso Ávilla)



NÓS





O Grupo Casa – Coletivo de artistas se propõe à investigação histórica, cultural e artística de um ícone do cânone dramático, entendendo a importância do constante retorno aos clássicos, e da defesa incessável do teatro que, por mais efêmero que seja, atravessa séculos e se faz urgente em sua universalidade. “A Vida É Sonho”, peça que vem sendo objeto de estudo do Grupo Casa desde suas primeiras leituras dramatizadas em 2014, é constante tema de debate e referência para o grupo. A montagem de textos clássicos, no entendimento do Coletivo, justifica-se como sendo um movimento indispensável da formação de público e da criação de uma cultura de teatro, pensando que estas obras estão na raiz de toda a contemporaneidade e do fazer teatral. É movimento obrigatório também, ao artista de teatro, a imersão em obras como essa, que trazem o teatro como um gesto do intelecto, um mergulho em modos de sentir-se, e como um esclarecimento de seu mundo e sua história. 


A VIDA É SONHO


“A Vida É Sonho”, peça teatral do poeta e dramaturgo Pedro Calderón de La Barca, é movido primeiramente pela atualidade dos temas que esta obra canônica traz. O príncipe Segismundo, protagonista da trama, vive desde a infância acorrentado em uma prisão, posto por seu pai, em virtude de uma profecia que dizia que ele, chegando à idade adulta, traria grandes desgraças ao reino. Anos depois, o rei, inseguro de ter tomado a decisão correta, testa o destino de Segismundo pondo-o no palácio, em sua vida de príncipe, numa farsa de que o que tinha vivido até então não passava de sonho. Uma vez em seu novo papel, ele começa a cometer todos os desatinos que haviam sido anunciados na profecia. Sem conseguir suportar a loucura do filho, o rei faz a operação inversa: encerra-o novamente no calabouço, como se nada tivesse acontecido no sonho da vida de Segismundo. A esse momento se destina uma das passagens poéticas mais belas conhecidas no teatro: “Que é a vida? Um frenesi. Que é a vida? Uma ilusão, uma sombra, uma ficção; o maior bem é tristonho, porque toda a vida é sonho e os sonhos, sonhos são”. 

BARRACÃO E NÓS


Entende-se também como parte do caminho do Coletivo o encontro com outros grupos de teatro e profissionais da área. Por isso, para este projeto, foram convidados Tiche Vianna e Esio Magalhães como orientadores em várias etapas do processo. Tiche é diretora do Barracão Teatro, grupo que fundou junto de Ésio em 1998. É formada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo e estudou máscaras e commedia dell’arte na Alma Mater Studiorum - Università di Bologna (Università degli Studi Università degli Studi di Bologna) e no Firenze of Papier Machê, na Itália. Em seu extenso currículo, consta a preparação de atores que participaram do Projeto Quadrante, entre 2005 e 2008, na Globo, que rendeu as minisséries “Hoje É Dia de Maria”, “A Pedra do Reino” e “Capitu”. Ésio, também diretor e fundador do grupo, é formado pela Escola de Arte Dramática da USP, ministra cursos de palhaçaria, linguagem de máscaras e teatro de rua, participou da XII Sessão da Universidade do Teatro Eurasiano, encontro internacional de pesquisadores de teatro de diversos países do mundo, e, dentre os diversos espetáculos de sua carreira, atuou com o palhaço Leris Colombaioni, em “Um giro nel cielo” e no “Circo Ercolino”, na Itália. Este encontro com Tiche Vianna e Ésio Magalhães, referências para o teatro brasileiro, foi positivo não só para o crescimento artístico do Coletivo, mas para a expansão artística da cidade, as possibilidades artísticas que foram trocadas, formando assim um novo elo entre Campinas - SP e Campo Grande – MS.

TEMPORADA


Como estratégia de ações posteriores à montagem do espetáculo, entende-se como necessária a oferta da peça em temporadas, tendo em vista a possibilidade de aprimoramento da obra a partir do diálogo com o público e, principalmente o fomento ao desenvolvimento de uma cultura popular de teatro na cidade. Com essa necessidade o Coletivo apresentará uma temporada de 20 apresentações dentro do espaço da própria companhia, entendendo que somente através da prática constante de apresentações do espetáculo poderá se apropriar deste. O Grupo Casa em sua trajetória buscou a construção de espaços alternativos de representação dramática, motivado principalmente pela pouca disponibilidade dos espaços existentes na cidade, e como estratégia de aproximação do teatro de seu potencial público. Atualmente, o Coletivo tem em sua sede um espaço de representação de até 40 lugares, onde já realizou e ainda realiza temporadas de espetáculos infantis e adultos. 

PROCESSO


O processo de montagem da obra “A Vida é Sonho” de Pedro Calderón De La Barca, de certo modo, se inicia com o estudo para a leitura dramatizada apresentada pelo Grupo Casa em 2014, logo no início do Coletivo. E desde então torna-se desejo do grupo uma possível montagem da peça. A partir da investigação e reflexão do texto, do Teatro de Ouro Espanhol e de outras obras de Calderón e Lope de Vega, são encontradas questões que dialogam com o humano e com as urgências artísticas do grupo. 


A arte do palhaço tem sido objeto de estudo desde as primeiras formações do grupo, e a poesia é linguagem constantemente presente no fazer artístico do Coletivo. Neste processo, pretende-se unir estes dois elementos a um potencial trabalho com as “máscaras”. Para tanto, foram convidados a participarem das etapas de preparação do espetáculo os artistas especialistas Tiche Vianna e Ésio Magalhães, ambos do Barracão Teatro de Campinas-SP.


O trabalho do Coletivo continua com uma profunda imersão na obra de Calderón, no estudo da relação entre o barroco e a contemporaneidade, nas traduções da obra, no trabalho de mesa e análise do texto a ser montado. A partir deste ponto, mergulharemos na construção dos personagens e do visagismo da peça: cenário, iluminação, adereços e figurinos até a estreia. 


O trabalho com Ésio e Tiche se inicia a partir da construção dos personagens. A máscara constitui uma linguagem expressiva, e o teatro, ao apropriar-se dela, desenvolveu determinada metodologia de trabalho com o ator e a cena, através de códigos precisos. Ao portar a máscara, o ator, materialmente, substitui sua identidade pessoal por uma nova identidade. O primeiro encontro se deu no início do processo na sede do Grupo Casa em Campo Grande - MS. O segundo encontro foi realizado na metade do processo na sede do Barracão Teatro em Campinas - SP. E o terceiro encontro aconteceu ás vésperas do espetáculo, também em Campo Grande - MS. 

Outro elemento em processo como parte da pesquisa cênica da peça é a relação do intérprete de libras com a obra. Desde seu inicio o Grupo Casa busca a incorporação das práticas de acessibilidade em suas realizações, questão principalmente motivada pela presença de alunos surdos na Casa de Cultura, pela participação no Coletivo de um ator intérprete e pelo trabalho realizado pela diretora Ligia Prieto, no Rio de Janeiro durante o ano de 2013, como gerente de cultura da Secretaria da Pessoa com Deficiência. A partir dos estudos feitos pelo Coletivo, foram elaboradas possibilidades de maior ação cênica ao intérprete, que não se limita às bordas da caixa cênica, simplesmente traduzindo o que se diz em cena, como um paralelo visual com a peça. Propõe-se então que o intérprete trave um diálogo com o espectador surdo de dentro do acontecimento cênico, participando também da estética cenográfica e gerando novas possibilidades na relação íntima e intransferível do surdo com a obra teatral.


O trabalho sonoro da peça também se fará como objeto de investigação na montagem. Será realizada, paralelo ao processo da peça, uma pesquisa sobre a “respiração polifônica” do encontro entre cena e público – como um entendimento da relação sonora entre palco e plateia, e o relacional desta relação. Esta seria um subproduto do processo, enquanto resultado de pesquisa, gerando possíveis artigos e debates sobre o tema. Tudo é som e ruído. Um ator que entra em cena, outro que fala, outro que dança, uma música sobreposta, a luz que atravessa a cena, as cores. Tudo isso se apresenta diante do público, que separa e decodifica os sinais e vibrações a partir de suas experiências individuais. Essa relação entre palco e plateia, na inferência do Grupo, se denomina “respiração polifônica”. O artista, portanto, deve compreender essa realidade virtual e se colocar como peça interdependente e afinada neste instrumento complexo que será tocado por todos que estão na sala. O espectador não é passivo, tem forma, conteúdo e desejos, e a esse encontro podemos chamar de teatro. 

INGRESSOS:


Mais informações em breve!


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  • endereço: Travessa Nelson Tabelião Pereira Seba, nº8 - Chácara Cachoeira;
  • telefone: (67) 3326-0222 ou (67) 99902-0067.
  • horário do espetáculo: oito horas da noite. 
Com amor e carinho,
Grupo Casa, 2018.

junho 04, 2018

O DIA A DIA DE UMA TRUPE DE TEATRO :: MAIO/2018

junho 04, 2018
Por: Thaisa Contar.


Oi! Enfim estamos em Junho. E está faltando apenas um mês para a estreia do espetáculo novo do Grupo Casa! Mas antes de me empolgar mais sobre esse anúncio, vamos conversar sobre o mês de Maio?

O mês começou em dia de feriado. 1º de Maio. Dia do trabalhador. Feriado? Estávamos trabalhando nesse dia. É certo? Logo cedo nos reunimos para mais um encontro de ensaio para o novo espetáculo "A Vida É Sonho". Combinando que nesse mês e no próximo deveríamos focar cada vez mais no espetáculo. Será que conseguimos?

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Casa

A Casa continuou com as reformas. Nosso fiel pintor Diego cuidou das nossas paredes com muito carinho até que ficassem do nosso gosto. Depois de quebrarmos tudo, o acabamento foi dado, enfim! Já o chão, coitado, permaneceu sujo e cheio de pó por algumas semanas. Quase não conseguimos dar as aulas, era sempre uma maneira de fugir do nosso próprio espaço. As aulas das crianças foram todas dadas no Shopping Bosque dos Ipês durante os meses de abril, maio e ainda será em junho. Talvez alguns pais tenham ficado chateados. Pedimos desculpas. Mas eram dois motivos: a reforma e os ensaios para a apresentação do espetáculo das crianças. Visto que a apresentação seria no próprio Teatro Arena Bosque, vimos que o melhor seria ensaiar lá mesmo. Mas agora, com alegria, voltamos com as aulas no nosso novo espaço. Maior. Mais limpo. Mais teatral.




No fim, criamos um maior espaço para o M.E.R.D., nosso mínimo espaço de representação dramática. A porta que o separava da sala foi removida, e agora o que era nosso teatro de bolso ainda é mantido como o espaço cênico de antes (palco/plateia) e um pedaço da sala agora vira plateia. O próximo passo é finalizar a arquibancada.



Dividimos a sala com gesso e criamos uma pequena biblioteca. Concentramos todos os nossos livros nesse pequeno grande espaço. Finalmente temos um espaço de leitura e trabalho de mesa! Viva! 


A área que permanecia fechada para aulas e apresentações foi separada do novo espaço com cortinas. Assim, continuamos as aulas com privacidade e alegria. A ideia é manter as cortinas toda vez que usarmos apenas o espaço de aulas e retirá-las quando usarmos o espaço como um todo.


A área que era sala e se juntou ao teatro virou mais um lounge, junto com a garagem do lado de fora da casa. Aconchegante até para nós: 


A Vida É Sonho

Continuamos os ensaios para o novo espetáculo! Criações. Bichos. Olhos. Fotografias. Direção. Leitura. Trocas. Descobertas.


Falta pouco, senhoras e senhores! Falta UM MÊS para a estreia! 



Espetáculos

Esse mês, o Grupo Casa se deliciou com as eventuais apresentações de domingo com a turma do Bagacinho, mas também encontramos uma nova forma de espalharmos a arte por aí. Fomos convidados por André Luiz Alvez para teatralizarmos a história de três livros de escritoras regionais. Começamos o nosso projeto de contação de histórias com as histórias dos livros "Lilica, a Galinha Árvore" de Carmen Lúcia; "Jujuba, a Seriema Viajante" de Mara Calvis e Vivi Borges; e "A Lebre e a Tartaruga", uma das histórias do livro "A Eterna Magia das Fábulas" de Marlin Balbuena Bremm. Foram três histórias para serem contadas em três dias que criamos e ensaiamos dois dias antes. Uma loucura quase impossível de ser feita. E o fizemos. Teatro, literatura e música: juntos por um mundo melhor! Teatro na escola, na praça, no palco, no pé da árvore... é teatro em toda parte!




A trupe do Bagacinho se aventurou pelas histórias de Cinderela, Gaia - A Mãe Natureza, Rapunzel e O Pequeno Príncipe. Cinderela e Chapeuzinho Vermelho foram as aventuras contadas em festas de aniversário do mês de maio.




Além de tudo isso, ainda fizemos uma ação de dia das mães em parceria com o Shopping Bosque dos Ipês. Música, poesia e flores para as mães. Lute como uma mãe. Grupo Casa é amor!



Encontros

Vou falar de um encontro de Abril, já que não tivemos o post deste mês. Tivemos mais uma oportunidade de encontro com a Pequena Companhia de Teatro, uma cia lá do Maranhão. Não podemos deixar passar certos encontros sem dizer algo aqui que se pareça com gratidão. Agradecer não é por obrigação, mas por reconhecimento. Nós temos tido muitos encontros desde que inventamos esse troço de andar em bando e outros bandos nos atravessam e nos marcam, que seja assim pra sempre.

Este é o caso do intercâmbio que fizemos na semana passada com a Pequena Companhia, eles nos presentearam com o convite para estarmos juntos na passagem da cia por Campo Grande. Fizemos a oficina do Marcelo Flecha, assistimos três vezes o espetáculo "Velhos caem do céu como canivetes" e eles ainda assistiram a um ensaio da montagem de "A Vida é Sonho". Deixamos registrado aqui todo o nosso carinho a este grupo resistente lá do Maranhão. Gente que faz teatro na garra, na raça. Gente que sabe que fazer teatro não é brincadeira, que nos afirmam sentidos. Não há desculpa para fazer mal teatro. Viva a Pequena Companhia de Teatro. Um beijo grande a todos os integrante deste elenco de artistas comprometidos com a cena e muito obrigado pelo carinho. Grupo Casa agradece. Obrigado, Marcelo Flecha, Katia Lopes, Jorge Choairy e Cláudio Marconcine!





Em Maio, outra companhia que tivemos o prazer de conhecer foi a galera do Projeto "Na Estrada", uma circulação de três grupos de Goiânia/Goiás que viajam juntos pelo Brasil, apresentando 3 espetáculos. Assistimos apenas dois deles, o terceiro batia horário com nossa apresentação de domingo da turma do Bagacinho. Mas apenas dois foram o suficiente para nos encher de emoção e nos tirar risadas. Convidamos a galera para jantar conosco e, no dia seguinte, conhecer nosso espaço. 

Também tivemos a alegria de conhecer a galera do Grupo Teatral Boca de Cena, lá de Aracaju/SE. Recebemo-nos em nossa sede. Eles vieram a Campo Grande pelo Palco Giratório, projeto de circulação do Sesc. Eles apresentariam o espetáculo "Cavaleiro da Triste Figura", mas por conta da greve dos caminhoneiros, o cenário e toda a instrumentária do espetáculo não chegaram a tempo da apresentação. Mas, delicadamente, eles apresentaram uma pequena performance do trabalho e isso nos causou uma grande curiosidade. Tomara que eles voltem ou que a gente se encontra novamente para matar esse desejo. Artistas lindos de muito talento e vocação. Obrigado, Sesc Palco Giratório! Gratos por mais essa oportunidade.

Foi um prazer, pessoal!

Porque só se faz teatro em coletivo. Isso o dia a dia nos apresenta. Contatos com outras companhias nos fazem ter a certeza sobre a importância do grupo, das funções estabelecidas, dos objetivos alcançados etc. Que o teatro sempre nos proporcione encontros diversos. Isso muda o mundo!

Além dos encontros de trabalho, também tivemos um encontro de ajuda. Conhecem a Fernanda Kunzler? A Fernanda é sonhadora, lutadora, artista, trabalhadora... A Fernanda é que todo mundo ama. Um dia roubaram o carro da Fernanda. O carro de trabalho da Fernanda, o carro em que ela carregava seus sonhos e lutas. Ela faz parte de um grupo de teatro, o Teatral De Risco, eles tinham o carro dela para realizar suas ações e um dia furtaram... Mas a Fernanda é essa que todo mundo ama, então a galera foi lá e fez uma feijoada. E tudo virou festa. Tomara que ela consiga comprar um carro melhor que aquele que levaram e que seus sonhos, lutas e desejos continuem sendo carregados pelo mundo. E o Grupo Casa foi se deliciar na feijoada da Fernanda Kunzler. E ainda tinha feijoada vegana! Sem desculpas para não contribuir! 




Grupo Casa no Teatro

Esse mês, felizmente, conseguimos assistir mais espetáculos que o usual.

Começamos o mês com a Semana pra Dança. Na verdade, a semana começou em abril, estávamos viajando. Mas conseguimos pegar os últimos dias com os espetáculos Ibípio de Geraldo Si (Alemanha/Brasil)  Tempos Idos da Cia do Mato (MS) e Sr Will da Giro8 Cia de Dança (GO). 

Conferimos dois dos três espetáculos dos grupos de Goiânia/GO: "A História é uma Istória" e "Quando se Abrem os Guarda-Chuvas". Os grupos são: Farândola Teatro, Grupo Bastet e Poesia que Gira Cia de Arte. 

Também assistimos o espetáculo Boca de Ouro - direção de Gabriel Villela e texto de Nelson Rodrigues. Não tinha como não prestigiar!

Acontecimentos que não podem passar em branco são os eventos do Sesc. O SESC MS inaugurou este mês mais um espaço de cultura em Campo Grande, o Sesc Cultura. Um prédio histórico na avenida mais importante da cidade. Fomos conferir e tá tudo muito lindo. Que tenham muitos espaços de arte espalhados pelas cidades!




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Foi um bom mês. Todos os acontecimentos de maio nos atravessaram de forma bastante íntima. Que o próximo seja ainda melhor!

É isso galera.
Um beijo e até o próximo post 


março 24, 2018

ÓCIOS DO OFÍCIO – A ARTE DE FAZER ARTE.

março 24, 2018
Por: Fernando Lopes Lima.


Chegou a hora, caros amigos, de dividir um pouco das reflexões que esse meu corpo insiste em produzir por necessidade própria. E hoje eu vou reagir. Pensar sobre os ócios do nosso ofício. Oh, quanto sangue nosso derramado todos os dias para produzir arte! “Minha carne é de carnaval, meu coração é igual”. Primeiro de tudo, e qualquer coisa: o que é arte? Várias são as definições de arte e todas elas de uma maneira ou de outra estão corretas; expressão da liberdade humana; criação humana de valores estéticos etc… Certamente todas essas concepções de arte têm seu sentido e valor. A arte é, por excelência, o lugar de conhecimento, feitura e expressão. Em resumo, a arte como um fazer, arte como conhecimento e arte como expressão. Vamos então destacar o teatro e ater as nossas reflexões somente a essa secular expressão artística. Então, o que é teatro? Para definir teatro, primeiro vamos à origem da palavra que vem do grego Theatrón e significa “lugar para contemplar”. Lugar para observar atentamente, para analisar. A plateia tem uma função ativa na sua própria origem, é dela o lugar de ver. O teatro é do público, com o público, para o público. Nós artistas não podemos nos esquecer jamais dessa máxima. Não é para satisfazer meu ego que faço teatro, tampouco para satisfazer o ego do público, pois não se trata de apresentar aquilo que ele quer ver e ouvir, mas é por necessidade que estamos diante nós mesmos para refletir sobre nós mesmos. O Homem diante do Homem. Portanto, todo objeto estético é um monumento histórico. O objeto teatro que está diante da plateia reflete o conjunto de artistas que se debruçaram sobre o material e a obra reflete a sociedade que está representada pelo público, que está diante de si mesmo, analisando-se. O público deve ser capacitado, capacitar-se, para ver cada vez melhor, e os artistas idem. A sociedade que não sabe ver-se é uma sociedade que fracassou. Tanto artistas quanto público estão cegos e nesse sentido não há o que se ver, e se não há o que se ver, não há teatro. O mais grave: se não há teatro a gente perde a possibilidade de construção do humano. Se paramos de construir o humano começamos, naturalmente, a nos desumanizar. Não avançamos. Nos tornamos uma sociedade de Homens desumanos. Essa humanização é a função máxima da arte do artista. E o teatro, na prática, coloca o Homem/plateia diante do Homem/artista e a força desse ato gera paixão imediata, gera ação, vibração, força, e essa força nos leva adiante. O teatro (re)inventa o humano. Por isso é uma arte libertadora, por isso é uma arte perigosa, e por isso ainda é tão combatida pelos governantes conservadores. Aqui começa uma luta extra, de uma classe que há muito vem sendo vilipendiada e que tenta construir leis mais sólidas que garantam melhores condições para o acontecimento artístico teatral. Os artistas, muitas vezes, têm de deixar seus afazeres para defenderem seu ofício e, quando a fome bate à porta, nós, artistas, acabamos por ter outros ofícios, que nos garantam o sustento e isso nos encaminha para a cegueira de todos. Quando o artista de teatro não consegue passar horas diárias trabalhando em sua matéria, o teatro, muitas vezes, se fragiliza e se afasta cada vez mais de sua função máxima de humanização. Não é fácil estar diante da matéria que se pretende transformar em obra de arte e que vai estar diante do público. O teatro, em muitas cidades brasileiras, se transformou em passatempo, atividade secundária dos artistas que, para se manterem, tem de trabalhar em outras atividades. Se você, artista, divide seu tempo com outras atividades, que tira o valor da arte como atividade principal, é, por deficiência, de uma sociedade que não compreende o valor da arte. Luto para que os artistas possam passar horas do seu dia debruçados em um processo de montagem antes de apresentá-lo ao público. Eu não faço teatro por obrigação, faço teatro por necessidade, por obrigação temos que fazer o nosso melhor, oferecer ao público um conteúdo fruto de uma experimentação séria, e isso só é possível fazer com muita dedicação, estudo e trabalho. Nesse mundo desumanizante, o artista precisa utilizar sua ferramenta para lutar contra as máquinas, contra a frivolidade, contra os desumanos que fazem trincheira e pretendem piorar o mundo. Ao público eu digo: clamem por teatro, não deixem os teatros fecharem. (Em Campo Grande/MS, o teatro do Paço está fechado há trinta anos e o Teatro Aracy Balabanian fechado há quase três anos). Aos meus amigos artistas eu digo: não se contentem com pouco, com migalhas, e não façam seus espetáculos para agradar a si próprios, busquem referências, saiam da bolha regionalista, ganhem o mundo e voltem para suas cidades com o novo misturado. O teatro é uma arte muito antiga, tudo já foi experimentado e, mesmo assim, é uma arte que se renova a cada encontro com o público, porque o público, por sua vez, se renova a cada sessão. Não se pode assistir a mesma peça duas vezes, pois você já não será o mesmo e a peça tampouco. Lembrem-se, meus amigos, aqui falo eu, e o quanto digo é problema de vocês. Beijos e até.


EU. SENDO EU.

março 24, 2018
Por: Ligia Prieto.


Eu. Sendo eu. Eu invento uma coisa atrás da outra. Em novembro do ano passado resolvi que todos do Grupo Casa deveriam escrever textos mensais para que assim pudessem se representar diante de si mesmos. Somos um grupo de teatro em formação, estaremos sempre em formação, o conhecimento de si e do mundo é uma necessidade. Dessa forma todos seguiriam e seguiram, entendendo seu próprio ofício, colocando as palavras para funcionar como forma de sustentação da existência. E assim foi. Eu. Estou atrasada. Sempre atrasada. Não escrevo desde janeiro. Peço desculpas. Por isso resolvi escrever, neste artigo, sobre os últimos meses. Ou sobre os primeiros meses do ano, tudo é uma questão de ponto de vista.

Em Janeiro estávamos de férias. Na verdade, todos estavam, menos eu. Eu estava na organização de tudo, como sempre, hotéis, dinheiros, comidas, gasolinas, dirigindo (dividindo com o Fer) uma Kombi com 9 pessoas, cenários e bagagens. Viajamos todos juntos para as férias sem férias. Fizemos 4 apresentações, foram emocionantes, tivemos o primeiro surdo na plateia, e muitas outras experiências que só existe pra quem vive o teatro.

Na volta, pararíamos em muitos lugares, mas eu não percebia que não tinha tirado as férias, não tinha percebido que não tinha parado de trabalhar nem sequer 1 minuto. É realmente difícil parar quando a gente faz o que ama, é uma existência que insiste. Na volta, quando chegamos no Rio de Janeiro, no hostel, no banco e, finalmente, quando sentei no meu restaurante japonês preferido, que há tempos não ia, tive uma leve tontura. Muita estrada talvez. Quem dirige muito em estrada sabe que é um ótimo passo para a labirintite. Ainda no caminho de volta, em SP, a mesma coisa, hostel, restaurante para um jantar delicioso, na Augusta as poucas luzes me incomodavam, e tudo girava. Tudo bem, labirintite, estrada, calor, somos muitos, comidas, organizações, cálculos. E finalmente em CG. Em cena, e a gente não para nunca. Por mim eu não parava nunca mesmo. Mas meu corpo me deu um grito “pare o mundo que eu quero descer”. Fiquei fora de cena por duas semanas seguidas. Foi uma dor. E ao mesmo tempo lindo, ver o grupo em funcionamento com outro olhar, eles cresceram, foi como uma mãe que vê o filho passar no vestibular, ou fazer seu primeiro desenho, ou.... o que quer que seja. Mas mesmo assim o mundo real tá uma grande tragédia, e eu não conseguia parar de pensar, e de elaborar fórmulas e meios de sobreviver, de viver do que amo, de mudar a mim, de mudar o mundo. Então eu pifei. Foram pelo menos 30 dias tomando remedinhos para dormir (homeopáticos, claro), voltando para a análise, e um novo/velho amor, o pilates. O diagnóstico era “ela está com um ataque de estresse, precisa parar”. 

Precisa. Necessidade. Reorganizei tudo. Fase de desmame. As roupas nas gavetas. As comidas na geladeira. As dores no peito. Os medos nas unhas. Sono. Homeopatia. Fim do anticoncepcional. Meu corpo. Minhas regras. Alimentação de tudo que sai da Terra, ou o que ainda resta dela. Respiração. E então precisamos retomar os ensaios e a montagem do espetáculo “A vida é sonho”, afinal de contas a estreia tá aí e o tempo urge. Aulas, apresentações da Turma do Bagacinho, ensaios. Primeira reunião, um ator informa sua saída do Coletivo. É difícil. É difícil entender onde termina minha individualidade e começa o coletivo. Onde termina minha vaidade e começa o teatro. Vaidade, individualidade, são palavras que não combinam com teatro. Teatro é a grande arte do SIM. De seguir pra lá. Não há lá, lá. Fim? Reorganiza tudo outra vez, ensaios, encontros, atores, personagens, roupas nas gavetas, comidas na geladeira. Cachês. Individualidades. Enfim, recebemos um banho de esperança, amor, carinho e trabalho, não há outro caminho senão o trabalho. Recebemos, na nossa sede, Tiche Vianna e Ésio Magalhães. Sim, tudo é possível. Sim, a arte insiste. Sim, teatro se faz em coletivo. Sim, não temos outro caminho. Momento de afirmação, sem desistir da formação. E então, outro ator que tinha acabado de iniciar não se deu o tempo de entender e disse não. Oh manhã dos inícios! Ainda assim a melhor coisa do mundo é a seleção natural. Então sigamos. Os melhores são os que ficam. Somos nós ainda, e tomara que pra sempre, Fernando, Ligia, Thaisa, Kelly, João, Febraro, Gabriel, Roberto, e nas bordinhas sempre presentes Thiago, Sarah, Amanda e Ana Julia. Uma linda menina entrou, nos trazendo sorrisos, seja bem-vinda Bruna, fique o tempo que quiser. A vida é a arte dos encontros, embora haja tantos desencontros pela vida.

Parei, retomei, reorganizei. Refazendo bordas. Sentindo meu corpo outra vez. Minha alma. Minhas certezas. Eu. Mulher, 30 anos, numa cidade tradicional e machista. Eu. Diretora de teatro, produtora, atriz, padeira, cozinheira, faxineira, cabeleireira, menina, dona de alguns cachorros e alguns projetos bem interessantes. Teatro se faz todos os dias, até quando se para. Depois de “Lugar Nenhum” de Neil Gaiman, passei para “A Insustentável leveza do ser” de Milan Kundera. Ser artista todos os dias. Acompanhada pela história do Grupo Galpão e pela história do Teatro de Soleil, os dias seguem, juntos, teatro de grupo. Os dias andam difíceis para os sensíveis. Só os imbecis não vêem. O problema é que a gente tem visão periférica, vê inclusive o que não queríamos ver. “E ser artista no nosso convívio, pelo inferno e céu de todo dia. Pra poesia que a gente não vive.” Fazer teatro, é viver teatro. Não há meio termo no mundo. Teatro, é muito mais que uma profissão, é uma ideologia de vida. É política. É gente. É ser humano. É liberdade. É existência. Meu desejo é que no meio disso tudo a gente faça borda. Chega de deixar o mundo escorrer por entre os dedos. Vamos fazer bem feito, de verdade, se for preciso dar uma pausa, que fique claro, é só pra amolar a faca.  Estamos em guerra!

março 09, 2018

CRIAÇÃO E CRIAR CENA – O BARROCO QUE HÁ EM MIM.

março 09, 2018
Por: Fernando Lopes Lima.


Passou um bom tempo para eu conseguir escrever novamente aqui no nosso blog. Foi difícil terminar o ano passado, assim como está difícil iniciar um novo ano. Ou ainda, está difícil se livrar do passado para ter o presente e determinar, como se fosse possível, o futuro. Não sou de futuros. Me apego aos passados e adoro os presentes. O presente tem sido nosso discurso nestes tempos, digamos, sombrios, onde desconfiamos até da nossa própria sombra. Aliás, eu gostaria de descobrir uma maneira de se viver o presente, mesmo que haja saudade para os dois lados. Saudade do que já passou e saudade do futuro. A dor do presente é quase insuportável, mas eu sou mula, soldado, guerreiro, não caio tão fácil. Gosto de me recriar no meio desse caos, se não gosto, ao menos essa é minha caverna, se houver outra realidade desconheço. Acho que o mais difícil para um artista é criar vivendo um presente tão desmerecido, parece que andamos para trás, os otimistas que me perdoem, mas o ser humano vive seu apogeu de desumanidades. E assim fica quase impossível dar ao mundo algo que podemos chamar de presente. Acho que aprendi a viver num mundo singular, onde dava pra defender a humanidade, relembrado passados e exaltando esperanças de um futuro baseado em ações positivas, de igualdade, amor, fraternidade, progresso, união, tolerância, mas tome cuidado, essas palavras hoje em dia, podem ser usadas contra você. Nesse sentido, estou enfrentando dificuldades digestivas. E não pense você, leitor, que estou fugindo do tema proposto. É exatamente de criação que estou tentando escrever. Criar é libertar-se. Criar é recriar a si próprio. Mas criar é só pra mim? Só para os meus? Só para os que entendem como eu entendo? Qual será o meu interlocutor? Para quem eu quero dizer? Quem somos nós nesses tempos barrocos do século XXI? Se Deus está me vendo, é para ele que exibo todo o meu esplendor. Só pra ele. Mas, será que ele veio? O altíssimo? Se aqui está, não quer se envolver? Tá tudo tão sujo. Eu não me envolveria se fosse eu o próprio Deus? Serei eu Deus? Quem de nós pode espectar suficientemente o outro? Até para sentar-se diante de uma obra é preciso saber viver o presente. Do contrário somos um bando de moribundos. Só pó. Cruzes. A essa altura o leitor deste blog deve estar achando que enlouqueci, que não estou no meu juízo perfeito. Sim, tem razão. A cada minuto mais fora do juízo tenho andado, do perfeito, nem se fala. Perfeito mesmo só quem já morreu. Será que já morri? Morremos todos? O que é a vida? Não desista, caro amigo leitor, estou só testando sua paciência. Criar é tentar se comunicar com algo, com alguém. É falar do homem ao homem. É virar do lado avesso. É querer mais do que se tem e dividir tudo com todos, mas como eu disse antes, nestes tempos o criador encontra grandes dificuldades. Ele ainda cria por necessidade própria, mas fica mais distante de acreditar no ouvido e nos olhos dos outros. Parece que estamos esperando Godot. Eu, em 2018, me concentrei, tive que limpar umas sujeiras, controlar os nervos, animar a alma e de presente ganhei, ganhamos, a montagem de um espetáculo com patrocínio. Nosso primeiro patrocínio. Ótimo, era o que queríamos. Vamos começar a montagem. Vamos reler o texto, adaptar e tudo vai ser melhor. Não é de doce ilusão que vivem os criadores. O homem vive de que? Quando criamos um projeto, estamos quentes, queremos aquilo mais que tudo, mandamos para o edital, passam os meses, o tempo, que tudo afrouxa, e quando sai o resultado, aquele fogo precisa ser reaceso. E você que achava que tudo era intuição, magia. Que nada, estamos nós diante do passado, no presente, no futuro. Tudo ao mesmo tempo agora. Opa, não tem desespero, foi para isso que você lutou. Arregaçamos as mangas e começamos a trabalhar. Lentos, atrasamos tudo na medida que o patrocínio também atrasou. E vem cotidiano, sai um ator, que diz que vai viver sua vida, entra outro ator, que diz que se cansou da própria sua vida. O texto é como um monumento histórico, todo objeto estético é um monumento histórico. Tudo começa a começar. Oh, manhã dos inícios! Parece que o céu que tinha ficado cinza voltou a jorrar seu azul sobre nós. Que peso é ser feliz! Mas o mundo continua uma merda, uma lama. Ótimo, parece que esse é o caminho. Falar algo para o “desmundo”. O texto chama-se “A Vida é Sonho”. O autor é um Padre que escreveu seu texto no Século XVII, Barroco, a idade é média… Pedro Calderon De La Barca nunca foi tão atual, não por simples mérito do autor, mas por desmérito da sociedade, que insiste em andar para trás. Parece que estamos avançando na criação da cena. Os atores se preparam a cada dia para o grande dia. O texto está sendo confeccionado, uma adaptação, que me atravessa, que me modifica, que me processa. É isso que chamamos de processo. Não posso pretender mudar o mundo se não estou disposto a mudar a mim mesmo antes. E estou criando. Passo a passo. Tudo se encaixa perfeitamente. Eu criei para mim uma forma de escrever dramaturgia sem que eu crie uma palavra, sou um caçador de textos alheios, faço deles o meu discurso. Chamo essa técnica de “corte e cola”. É intenso esse tipo criação, todas são, mas essa não tem forma definida. Eu conto com os deuses que tenho a minha disposição, ferramentas intelectualizantes e meus companheiros. E tudo parece um rio, hora navego por águas claras e profundas e hora por águas rasas e turvas. Devagar e urgente tudo vai virando o drama de minha criação. A dramaturgia começa a virar cena, os atores dão suas enormes contribuições. Todo dia descobrimos pedaços. Criação é isso. Deixar as coisas entrarem em contato, em relação, permitir-se sentir dor, duvidar, enfraquecer e ressurgir, para voltar à caverna e tentar convencer os outros da nova realidade, mesmo que os outros só vejam sombras, mesmo que os outros ainda não consigam distinguir as experiências. Amá-los apesar deles. A vida é sonho, tens razão, meu caro Pedro, e que sonho! E tomara, eu, que a gente nunca desperte, e que sejamos capazes de transformar o nosso sonho no que desejamos para todos. Ainda que eu te pareça esquizofrênico, público meu, leitores, amigos e artistas, nunca desistam de acreditar que embora eu tente lhes dizer algo, é responsabilidade de vocês o quanto digo. Façam um bom proveito. Deus se cria enquanto cria. Amém.


fevereiro 28, 2018

TUDO DE NOVO

fevereiro 28, 2018


Por: Amanda.

É 2018. É janeiro de novo. 12 meses de novo. Tudo começa mais uma vez. No começo de janeiro a saudade do Rio de Janeiro já batia na hora de ir embora. Dia 04 de janeiro minhas férias estavam no fim. Cheguei em casa. Em Campo Grande. As aulas do teatro voltavam dia 15. Dia 15 tudo recomeçava. E que medo isso me deu. Janeiro foi um mês de muita ansiedade, muita angústia. Eu tenho pensado muito em 2018. E um novo ano me apavora por alguns momentos. E me empolga por outros. Na primeira aula desse ano tivemos duas horas de conversa com o Fernando. Compartilhei o que me dava tanta ansiedade e angústia. Em 2017 eu vivi um ano no teatro como nenhum outro que tinha vivido. Era tudo sempre novidade. E não sabia o que esperar. 2018 me apavora por pensar que talvez eu faça mais ideia de como as coisas funcionam. Apesar de que eu não sei. Não faço ideia de como as coisas vão ser esse ano. Porque então tanto sofrimento com antecedência? É janeiro e ainda estou de férias da escola. Esse ano irei para o nono ano. É, nono ano. A escola pra mim é... eu não sei como definir a escola pra mim. Eu sei que estar com 13 anos e viver tudo isso é doloroso. No mês de janeiro minha cabeça ferveu. Janeiro me fez pensar. Janeiro me fez questionar. E janeiro já está indo embora. E com ele minhas férias. Eu volto à minha rotina. E isso me apavora. O ano inteiro está pela frente. E sair da rotina com o teatro por um mês me deu espaço pra pensar em tanta coisa. Enquanto o ano passado acontecia, eu tinha na minha cabeça que era isso. Teatro. Não tinha outra saída. Em janeiro me questionei por vezes se tinha outra saída. E tem. Temos o caminho mais fácil e o mais difícil. A questão é que ir pelo caminho mais fácil é mais difícil. Ou não? Esse foi o mês de janeiro pra mim. O mês da dúvida. De muita dúvida. A ideia de que tudo está por vir de novo me dá de presente uma nova angústia. Tudo é sempre um desafio. De desafio em desafio: batalhas diárias. Escrever um artigo por mês é um desafio. E um medo. Todos os dias são desafios. E vêm novos medos. A virada de um ano para o outro pra mim nunca foi tão significativa. Pra mim sempre parece tudo a mesma coisa. E todas as viradas foram assim. Tudo na minha cabeça ia continuar igual. E isso era confortante. Até a virada de 2017 para 2018. A ideia de que 2018 pode ser tão dolorido, difícil e angustiante como 2017 me apavora. Ou pode não ser. Pode não ser metade de tudo que eu imagino. Sempre há dúvida. Pode ser. Como pode não ser. Dois dias antes de começarem as aulas do teatro meu coração acelerou. Acelerou por algo que iria acontecer daqui a dois dias. E também por algo que ia acontecer em abril. Ou em setembro. Ou até em dezembro. Por minutos meu coração disparou por 2018. E pelas suas surpresas. E pelas aulas. E pelos processos. Pelo Bagacinho. Por tudo. O medo já faz parte de mim. Ele está aqui sempre. Desde uma aula até um processo. E ele sempre estará aqui. Em janeiro tive insônia. Primeiras vezes que tive insônia. A cabeça não para. As aulas e compromissos da semana acabaram. Ufa! Tem daqui a uma semana de novo. E passa tão rápido. Já temos mais aulas e mais compromissos de novo. O mês de janeiro me parece um processo em cena sem processo. Eu deito a cabeça no travesseiro após a aula de quarta, já pensando na próxima vez. Escrever um artigo é difícil. Pra mim é muito difícil. O artigo de janeiro me parece confuso. Mas janeiro pra mim foi toda essa angústia. Janeiro tem 31 dias. 3 sílabas. 7 letras. E passou voando. E passou lentamente. Janeiro é confuso. Foi confuso. E quando vejo, janeiro já se foi! É difícil relacionar a minha idade com a minha vida. Bem difícil. Há pouco fiz 13 anos. Em outubro. Minha idade é uma das minhas grandes questões. Por vezes, parece que esqueço dos meus apenas 13 anos. Por vezes, me parece que os outros esquecem. E por vezes eu quero ter apenas 13 anos. Estou na adolescência. E é muita cobrança querer que eu tenha real certeza de que é isso e que não tem outra saída com a minha idade. Eu já acho difícil ter que decidir com 18. Imagine, com apenas 13 anos, passar pela cabeça que não há outra saída. Que é isso. E que não tem outra escolha. Peço que lembrem com carinho dos meus vagos e queridos 13 anos. Eu estou no começo da adolescência ainda! E vivo com as costas tortas porque a responsabilidade é pesada. Eu tenho medo de não querer seguir com o teatro. E tenho medo de querer seguir com o teatro. E me parece errado não querer seguir com o teatro pro resto da vida. Há uma grande dúvida dentro de mim. Se eu quero isso. Se eu quero isso nessa idade. Se eu quero viver minha adolescência no teatro. Eu quero ter outra saída. E talvez eu escolha a outra saída. E talvez não.

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Por: Ana Júlia.

Quando ficamos muito tempo fora, é normal sentir saudades. No começo de janeiro, Ana já estava com saudades de Campo Grande, faltando um mês para ir embora. Eu não via a hora de acabar as minhas férias em Apiaí. Sentia saudades do cheiro da minha casa. Dos meus livros. De Campo Grande. Dos meus amigos. Do teatro. Da mesma forma que eu sentia muita saudade do teatro, eu não queria que as coisas começassem por medo. O começo de tudo estava cada mais próximo. Em 2018 irei para o ensino médio. Período que é conhecido pela pressão dos pais sobre qual curso você vai escolher pra vida toda. Eu não faço ideia. Não sei o que esperar daqui pra frente. Vou vivendo o que for sendo. Logo no início de janeiro, quando soube da programação do ano e de todas as suas surpresas, de todos os seus processos e dificuldades, passou pela minha cabeça "irei poupar meu sofrimento e sair do teatro". Porém, sair do teatro é o caminho mais fácil e mais difícil de se tomar. Eu sei que não vivo mais sem teatro. É o que me move. Aos 14. Mas e aos 30? Será que o combustível será o mesmo? Janeiro e suas angústias. A angústia da dúvida sobre o que eu vou fazer pra vida. Tenho apenas 14 anos. Peço que se lembrem com carinho. Eu tenho dúvida. Dúvida sobre tudo que está relacionado ao teatro. Até de mim mesma. Penso que sempre me faltará coragem para deixar tudo isso pra trás. A grande questão é: eu quero deixar tudo isso pra trás? Talvez não tenha capacidade de escolher o que eu quero pra minha vida com apenas 14 anos. Eu não quero escolher com 14 anos. Eu tenho medo de querer seguir com isso. E tenho medo de não querer seguir com isso. Esse mês descobri que faria "Pelo Amor da Colombina". Faltava uma semana e eu já estava com medo. Me pergunto pra que o sofrimento com antecedência. Eu sofro por todos os 12 meses que estão pela frente. Não só pelo amanhã. Sofro por um processo que irá acontecer em dezembro. Falando em processo, meu primeiro foi no ETECA (encontro de teatro entre crianças). Eu tinha 13 anos. Escolhi falar sobre Maria e sua relação com a guerra na Síria, e como isso afeta a vida de uma criança. Os ensaios foram tensos. Eu chorava em todos eles. Os dias passavam lentamente. Hoje penso que todos somos Maria. Cada um com seu caos interno. Meu coração dispara por entrar em cena. Meu coração disparou antes de entrar em cena. E dispara por todos os desafios que tenho que enfrentar. Vivo cada dia uma aventura diferente. Uma experiência nova. Um frio na barriga novo. Me sinto desafiada e com medo cada vez que entro no Grupo Casa. E entender que tudo começa mais uma vez me traz a angústia de Janeiro. O começo de tudo começa mais uma vez. 

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Por: nós duas.

Nós percebemos que temos as mesmas angústias. Que passamos por tudo juntas. Que estamos no mesmo barco. E isso nos deu abertura pra juntarmos nosso janeiro. Nosso janeiro e nossas angústias. As nossas angústias diárias que nos permitem ser Amanda e Ana. Viva o teatro!

Com amor,
Amanda, Ana Julia e nosso mês de janeiro.


A DOR QUE SE DEVE SENTIR

fevereiro 28, 2018
Por: Roberto Lima.


“Nós tiramos tanto de nós mesmos pra nos curarmos das coisas mais rápido que corremos o risco de chegar à falência antes dos 30...” Essa foi uma frase que me seguiu intrinsecamente... Há tanto medo de sofrer, de sentir dor, que nos sabotamos na tentativa de eliminá-las, sendo que a dor deve sim ser sentida, ela é também um dos agentes que vão movimentar teu pensamento a existir e mudar tua realidade. Quanto mais fugimos da dor, menos aprendemos, vale a pena senti-la e passar por ela entendendo quais são as marcas que te causam, e quais movimentações cria dentro de ti.  As férias acabaram-se e o ano começou, tivemos nossas primeiras reuniões para definição do primeiro semestre e as novas turmas de alunos começaram a chegar... Para minha surpresa e alegria, entre os quinze, estava o Allan!

Allan é um surdo que sonha em ser ator e decidiu embarcar em busca do seu sonho. As aulas tem sido um mistério desde então. Fernando comanda os exercícios e eu os sinalizo e participo dando um norte para o Allan, e o deixo concluir só... Todas as atividades foram concluídas! Allan tem se mostrado um ótimo descobridor de si. É perceptível o prazer que ele tem de estar ali. Temos diversas questões em debate sobre qual a melhor forma de transmitir as informações necessárias e como usá-las dentro de um grupo ouvinte, sabemos que o Allan tem um gosto peculiar pelo português, o que torna tudo incrivelmente mais gostoso de trabalhar.

As aulas com o João também me preocuparam, não sabia o que ele havia preparado e como o Allan receberia, afinal, sei que nem todos os surdos são adeptos da música, mas para meu deleite, o Allan acompanhou todos os exercícios sem muito esforço e finalizou a aula tocando violino. A limitação está na nossa cabeça! Sempre há um jeito de atingir um objetivo se a vontade é excepcional! Não me preocupo mais em como será a aula, sei que dia após dia vou me surpreender com algo, e coisas novas surgirão a partir desse encontro.

Demos início também nas leituras de “A vida é sonho”, outro local de prazer e dor que está se desenvolvendo e crescendo dentro do Coletivo. Não sei ao certo o que esperar ainda, mas sei que o desafio maior será ser de fato um ATILS (Ator Tradutor Intérprete de Libras). Nesse espetáculo a verdade vai aparecer! Atuar e interpretar ao mesmo tempo, meu sonho tendo a oportunidade de existir... As leituras têm sido lindas, sei que bons frutos vão surgir nesse semestre e espero tirar o máximo possível, deixando a dor de cada dia, para cada dia...

Quero muito finalizar esse artigo com uma poesia que me faz pensar em por que ela foi criada e o que o autor sentia enquanto a escreveu...

”Ainda que eu esteja fraco, nulo, sem maneiras de me reerguer das trevas, todavia estarei salvo, se ainda atuar... Ainda que eu esteja trancado no escuro, onde os olhos não são importantes, nem existem... mesmo assim estarei salvo, se ainda puder interpretar... Ainda que eu esteja mofino, inerte, sem maneiras de me expressar, desta mesma forma estarei salvo, se ainda puder imaginar... Ainda que os sentidos me abandonem, e eu não saiba mais quem sou – ou o que sou... Todavia continuarei a salvo se puder me reinventar... Mas se querem que me desfaça, que eu morra nas areias inescrutáveis do tempo, basta apenas duvidar que a entrega verdadeira a arte milenar do teatro salva e pronto! Deixarei o nada a ninguém...” Fora daqui é a morte!


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